sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

HAVENDO MUNDO, TUDO É POSSÍVEL

- Ah! Ele é muito devagar, não dá não.
- Mas você foi clara? Falou toda a verdade?
- Meu Deus! Verdade? Quem não enxerga o que está acontecendo? Cheguei à conclusão que é má vontade mesmo.
- Ah... sei não... Acho que estes teus contrafeitos silêncios também não ajudam.
- Ele é do tipo que não merece delicadezas.
- Por que dizes isso?
- Porque uma pessoa que tem até umas luzes de latim, é capaz de destinguir água benta daquela que não é, e quer viver nesse abismo? Parece que tem prazer nesse insucesso. Na minha opinião ele já escolheu.
- Você acha?
- Acho.
- E qual foi essa escolha, então?
- Escolheu aquele amor abismal, destruído, maltrapilho.
- Acho que exageras...
- Não, não... (pausa)
- Então por que esse seu choro convulsivo de quem perdeu um parente?
- É que estou cansada de caminhar por entre esses penhascos que só de olhar pra baixo o coração estremece... (soluço)
- Você também já fez a tua escolha.
- Fiz?
- Sim.
- Então não sei qual é.
- Escolhestes colocar o teu coração nas mãos de alguém. E agora, ele o esmigalha como se fosse uma flor.
- É...
- Tu não mereces este amor finito.
- Tens razão.
- Sim, tenho. Vem cá, me dá um abraço.
- Hum.
- Me dá a tua mão.
- Eis aqui minhas mãos.
- Havendo mundo, tudo pode acontecer. Me perdoas por não dizer que te amo?
- Perdôo. Desfaça esse nó em meu coração.
- Juro que o desatarei.

Da série "Diálogos delirantes"