sexta-feira, 6 de novembro de 2015

REBENTO

Silêncio...
O amor foi declarado.
O amor foi feito.

novembro/2015 - para o grande amor da minha vida

quarta-feira, 29 de julho de 2015

SOB MEDIDA

Entrego todos os meus bens para cantar essa canção.
Renuncio às coisas que elegi.
Quero desmemoriar-me,
esquecer quem aflige-me.
Durmo sobre o papel de seda. Sou forçada a não me mexer.
Desejo um repouso natural que há muito não tenho.
Uma noite de sono inteiro, sem interrupções.
Como se somente o escuro,
pelo poder aniquilador que tem,
desaparecesse os problemas.
Alisa-me o cabelo,
que é de onde escorre o meu silêncio.
Minha vontade é amar.
E as letras cabem em meu amor.

julho/2015
Para Thiago

ASSALTO AO PEDREIRO

O pedreiro acorda cedo
Bate laje o dia inteiro.
Só pára quando ouve o apito.
Assaltado, abre a marmita e grita:
- Cadê o meu ovo frito?

julho/2015
Da Série "Histórias pequeninas"

SEJA MEU ESCAPE

Age, assim, como fenda de luz :
me alivia o cansaço das mágoas passadas.
Ainda tenho milhões de lutas,
todas escondidas,
mas juro que não permito que elas se tornem minhas vizinhas de porta.
Não me canso do lero-lero
e volto a acreditar em você porque me importo contigo.
Culpa desse meu coração destemido,
praticamente quixotesco,
que pensa em trabalhar em horta comunitária
e disso sobreviver.
Meu bem querer é um céu
que se anuncia sozinho.

julho/2015
Para Thiago

terça-feira, 28 de julho de 2015

CONTANDO ESTRELAS

Quando ainda muito pequena, comecei a contar estrelas. Diziam que eu ficaria com os dedos cheios de verruga, mas eu nem ligava. Achava até charmoso caso alguém perguntasse o que aconteceu. Responderia de imediato: - São as marcas das estrelas que contei. Mas nunca tive uma marquinha sequer. Quantificar estrelas me fazia gerente dos corpos celestes. Me trazia uma série de benefícios - acreditava: forçava a visão para encontrar o brilho lá no fundo do firmamento; percebia que toda sensatez humana desparecia frente à imensidão negra; caminhava sem medida pelo universo. Com o tempo, as nuvens de poluição apagaram do quadro meus pontos brilhantes. Por um momento adormeci; quando despertei encontrei quase nada ao olhar pra cima. Nem estrelas. Nem aviões. Nem meus sentimentos feridos. Me mudei para o interior onde a noite é mais brilhante. Descobri, ali, comigo mesma, que as estrelas também vivem sós.

julho/2015
Para Thiago 

MICROCONTO DA MULHER QUE ABSORTA POR OBSERVAR O AMOR QUE TINHA NO CORAÇÃO, CHEGOU À ÚNICA CONCLUSÃO PLAUSÍVEL PARA INTERPRETAR O QUE SENTIA.

- Isso  tudo é tão bonito que só pode ser de verdade.

julho/2015
Para Thiago

domingo, 22 de fevereiro de 2015

DAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO AFETO HUMANO

Nascemos sozinhos.
Vivemos sozinhos.
Morreremos sozinhos.
Crendice humana
é pensar que estamos acompanhados
em uma empreitada qualquer.
Por natureza,
o ser humano é feito só.
E conviver com a solidão lhe é imputado
para toda a vida.
Mesmo que se morra junto,
ninguém é enterrado junto.
Corações são habitados,
mentes são movimentadas,
o tempo (ah! o tempo!) nos dá a impressão de coletividade.
Mas a alma é insalubre,
ela é sozinha.
Falta-me um pedaço sempre que alguém se desgarra
(por quaisquer motivos).
Das várias construções de mim,
das várias considerações acerca do afeto humano
chego à conclusão
de que sofremos porque não aceitamos
a nossa própria condição.
Teu bilhete de metrô é único.
Tua passagem tem só uma via.
Há só uma escova de dente sobre o lavabo,
não se engane.
Resta-nos viver essa solidão com dignidade.


fevereiro/2015