sábado, 16 de fevereiro de 2013

ESCREVO O QUE NÃO POSSO VIVER

Estamos sempre entre escolhas.
Seguimos a corrente, cortando as asas como os outros do bando.
Se eu tivesse coragem, escreveria muitas verdades aqui.
Mas cá pra nós, eu nem fumo!
E se fumasse, não seria por vício; acenderia cigarro para pensar.
Matutaria sobre tudo mas não ousaria esclarecer nada.
Não dá pra viver e tentar explicar.
Olho pra ti e estás distante por uma questão geográfica evidente,
e eu tenho pressa em alcançar o outro lado da rua.
Dada a minha limitada existência,
escrevo somente o que não posso viver.
Optei por postular-te único nesse altar.
Cerzi teu nome em todas as minhas roupas.
Beberico o vinho, mordisco o pão e penso em ti.

fevereiro/2013

A MENTIRA DO VERÃO

Quem mora no litoral sabe, ao acordar, quando o dia será insuportavelmente quente. Não é adivinhação; chamo de experiência. Aquele calor que sobe às orelhas e faz o asfalto tilintar. Eu, particularmente, considero um grande exagero os dígitos do termômetro acima dos 30 célsius. Não é chique nem proveitoso. Tudo desmonta. Há aqueles que adoram o deus-sol, dobrando a espinha em agradecimento ao bronzeado. Eu, não. Minha pele é branca, daquela brancura de saltar aos olhares mais preconceituosos - minha dermatologista passa a mão na minha cabeça e me elogia; alguém me entende. Eu sei, eu sei que o verão é o tempo da alegria-cores-carnaval. Mas essa estação está fora das minhas gestações. O fato é que não dá pra ser feliz de dezembro a março e chorar o restante do ano. Para que tanto teatro se é sempre manhã, tarde, noite, madrugada e manhã?

fevereiro/2013


MICROCONTO DO HOMEM QUE ERA INCAPAZ DE ESQUECER O AMOR PASSADO, MESMO SABENDO QUE SUA ESPERANÇA ERA INGLÓRIA

Não removia as fotos antigas debaixo do travesseiro. Vivia de passado.

fevereiro/2013

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

MICROCONTO DA MOÇA QUE ESTAVA POR TODOS OS LADOS E DO RAPAZ-RATO QUE FINGIA QUE A DESEJAVA

- Você desapareceu - disse o infeliz, após beijá-la velozmente, multiplicando o sentimento que dela nunca subtraiu.

fevereiro/2013

FESTA DA CUMEEIRA

Com dentes de cão furioso
te arranquei daquele lugar de destaque.
Terreno limpo,
dei-me espaço para edificar novamente.
Construí o madeiramento por completo
(quero um telhado em mandala).
Amarrei ramos e palmas nas partes mais salientes,
fiz uma churrascada suculenta
pra comemorar a armação da cumeeira
e a minha liberdade de você.
Festa assim, dizem que traz boa sorte
e eu não tenho talento para o luto.

fevereiro/2013