domingo, 20 de novembro de 2011

A COCEIRA DO SOFRIMENTO

Coisa ruim é sentir falta de alguém.
Seja lá por qual motivo for.
Saudade é uma coceira por dentro,
Justamente aonde a mão não alcança.


nov/2011, somente refletindo na madruga

SONINHO

Sentia muita preguiça naquele dia.
Percorreu o abecedário,
um pouco sonolenta,
mas chegou ao fim.
Tentei acordá-la, mas ela só:
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz


novembro/2011 - só uma gracinha...

sábado, 19 de novembro de 2011

DE BEM COM A VIDA

Vejo o mundo
através das grossas lentes do otimismo.
E, distraída, me pergunto:
Aonde a beleza está?
Justamente na direção 
em que foca o meu olhar.

domingo, 31 de julho de 2011

DESESPERADA

Tentava me consolar
sobre o caos das coisas.
Conformada com os maus bocados
que eu passava naquele momento, dizia:
- Meu bem... O mundo é mesmo dos aflitos...
Mas no dia seguinte, encontraram a sujeita
na rua, correndo de camisola e gritando:
- Salve-se quem puder!!!

julho/2011

AMIZADE DE MALA PRONTA

Às vezes mes canso
desse entra-e-sai de gente das nossas vidas.
Esse embaraço
de esbarrar em milhares de almas
sem, contudo,
haver coincidência ou identificação.
No meio dessa confusão,
desejo mesmo é a amizade que já chega de mala pronta.
Como quem não tem nenhuma intenção de ir embora.
O tempo arrastando e a gente criando raiz no outro.

saudades de meus amigos, julho/2011

NÃO ACEITO O TROCO EM BALAS

Meu sonho verdadeiro é simples:
o dia em que você estará
ao meu lado
por completo.
Poupe-me do trabalho de adivinhar o que pensas.
Por favor,
não me apareça pela metade.
E nem aceito o troco em balas.

todo mundo quer ser feliz, julho/2011

CONVERSA AO PÉ DO OUVIDO

Tento me expressar.
No entanto, as sílabas escapam.
Correm para longe mim.
Percebo, então,
que minhas palavras estão guardadas
sobre meus ombros.
Reclino a cabeça
sobre ti
para você me ouvir.

estava com saudades! julho/2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

WWW.TUDODEBOM.COM

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terça-feira, 26 de abril de 2011

PREGUIÇOSO

Sentia uma preguiça tão incontrolável
que seus braços e pernas
eram maiores do que o normal,
de tanto se espreguiçar.
Um dia ficou tanto tempo nesse vai e vem
que as mãos tocaram na lua.
Agarrou-se nela,
e decidiu ficar por lá
tirando uma soneca.

SEU AMOR NÃO É GRANDE, MAS É LINDO

Ela insistia em medir o amor alheio,
como se o artifício fosse capaz de aumentar
o que o outro sentia - e que ela achava ser pequeno demais.
Se ardia inteira, como se pudesse tocar o que havia dentro do peito,
e que ela julgava ser tão imenso,
inquebrável,
inabalável,
uma madeira queimando eternamente.
Costumava dizer a ele que "seu amor não é grande, mas é lindo!".
Ele sorria de canto, achando tudo uma bobagem sem fim.
A amava,
mas sabia que era tola
a ponto de não entender a proporção de tudo aquilo.

sábado, 9 de abril de 2011

YES, YES, YES

Yes, nós temos bananas.
De vários tipos,
para comer durante ou após o almoço,
embora seus lavradores se alimentem de comida fria.
Yes, nós temos hamburgueres.
Espalhados por várias cidades,
mais do que as bananeiras de outrora.
Yes, nós temos pierrots.
Vivem à mercê do cachimbo,
não da paz,
mas da escravidão.
Yes, dizemos "sim" em outra língua.
Para tentarmos esquecer
de Villa-Lobos, Vinícius, Drummond, Adélia.
Só conseguimos nos lembrar, mesmo,
de Carmem... Ah! E das bananas em seu chapéu.

abril/2011

OUTONO MENSAGEIRO

Olho a paisagem lá fora.
Sol claro, é dia.
Vento cinza, é tarde.
Frio chuvoso, anoiteceu.
Começam a cair as primeiras lágrimas do inverno.
Ainda são doces
como as nossas lembranças do mar na primavera.
Uma promessa de vida se instala
no calor do meu ventre feito de verão.
É o Outono,
mandando o recado da estação que se aproxima.
Como eu amo o inverno!

só matutando sobre as estações do ano, abril/2011

terça-feira, 15 de março de 2011

ESPERANDO GODOT

Sublime esse aguardo.
Quase uma religiosa espera.
Passamos o caminhar à deriva.
Barco sem vela,
boiando... quando chegará a terra à vista?
Esperamos pelo quê?
Esperamos por quem?
Esperamos como milhares
de Vladimires e Estragons que somos.
Polindo-nos e lustrando-nos.
Simplesmente esperando.

março/2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

MEDÍOCRE

Era tão tacanho
que sentia-se desonrado por viver.
E repetia, dia após dia,
a frase de Clarice:
"Ter nascido me estragou a saúde"

fevereiro 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

UM CASO DE AMOR NA MESA DA COSTUREIRA

Oh linha amada, vem pra junto de mim.
Quero sentir-te envolvida ao meu corpo feito de pano,
se entremeando em meus fios de algodão.
Chega-te, toda poderosa,
fazendo desenhos ao meu redor.
Só você me dá uma nova vida.
Com sua doçura, me invade e me transforma.
De um simples corte de tecido
me levas além:
posso ser o que tu desejas.
O que queres que eu seja?
Uma camisa? Um vestido? Um lenço?
Apenas com você quero passar a eternidade.
Nós dois, unidos com o propósito de sermos um.

Já sabia que eras meu.
Em meio a tantos cortes de pano,

escolhi a ti.
Do alto de seus 2,50m ,
me encantei por essa estampa,
tão bela, tão significativa!
Somente você me completa:
é em seu coração, 
atravessando suas tramas, que me sinto segura.
Quero te fazer bem,

oferecendo-te minha melhor agulha.
Vem, amado, vamos juntos,
costurando nossas alegrias,
nosso fiar por essa vida.
Juntinhos, como linha e tecido que somos.

apenas mais uma história de amor, fevereiro/2011

MINHA CAMA, MEU COLO

Amanheci amarrotada,
vontade de sentir preguiça o dia inteiro.
Camisolenta,
vou pro trabalho com a cabeça ainda no travesseiro.
Manhã nublada,
frio lá fora, chuva lá fora.
Ouço minha cama chamando meu nome.
Sinto-me como um bebê arrancado do colo materno:
quentinho, aconchegante, seguro, lugar de sonhos.

preguiça.... , fevereiro/2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MEU CHICLETINHO

Amo você cada dia mais.
É como se esse chiclete
nunca perdesse o gosto do morango.

para jardel, fevereiro/2011

PORTO SEGURO

Pensando em ti,
lembrei de onde descansam as estrelas.
É você que me alumia na escuridão dessa rotina.
Nosso amor, um fio bem fininho.
Mas é esse fiapo que me aguenta
quando no abismo estou.

para jardel, fevereiro/2011

...

Eu, sem você,
são minhas mãos sem semeadura.

para Jardel, fevereiro/2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MEU AMOR PARTIU

Meu amor partiu.
Foi embora,
em vários pedaços,
se fragmentou.
Me deixou só,
do outro lado da linha.
Nunca,
nada vai mudar essa ausência,
nem meu rosto
inchado de mágoa.
Esse amor gritou
e se expulsou de meu coração.

cansou?? , fevereiro/2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DISTIMIA

Era simplesmente um rabugento.
Rosnava para qualquer situação.
Descobriu
que havia enrolado o bom humor
em um pano velho e encardido.

tem gente assim, fevereiro/2011

ROTINA

Já havia se acostumado
ao trabalho rotineiro.
O carimbo lambia a almofada,
e repousava
em um canto estratégico do papel.
Fato consumado.
Sem esmero, sem capricho.
Apenas aquela rotina, há 20 anos.
Era como mascar grama
sem se incomodar com os insetos em seu rabete.

fevereiro/2011

ACHEI QUE IA MORRER COM ESSE GOLPE

Liguei.
Enviei mensagem.
Toquei a campainha.
Nada, nada, nada.
O silêncio, às vezes,
se assemelha a um soco no estômago.

quem já não passou por isso? , fevereiro/2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PRÊT À PORTER

Não tinha o mínimo talento
para dar bom dia  aos outros
nem agradecer a gentileza do manobrista,
mas era considerada símbolo de elegância.
Perdeu a compostura
quando surpreendeu o marido e a outra
deitados sobre seu vestido fúcsia
Yves Saint Laurent.
Roupa de alta costura amassada
é algo que não tem perdão.

ela estava na 1ª fila do SPFW, fevereiro/2011

DESPREPARADO

Experimentando o sucesso repetino,
se livrou de todas as roupas e dos sapatos
adquiridos quando ainda era assalariado.
Mas a tempestade arrastou sua mansão imponente
no alto do morro.
Ficou só com a roupa do corpo.

fevereiro/ 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ODE VIRTUAL

Ó rede mundial
Que liga,
Acorrenta,
Espia,
Destroi relacionamentos!

Ó Fada Madrinha,
grandes olhos eletrônicos
só vocês me enxergam,
me teletransportando a
Hong Kong
Paris
Nova Iorque
Tocantins

Ó imensa caixa social
que reúne amigos, conhecidos e desconhecidos
em minha sala de estar infinita!

Generosa,
inundas o teu globo
com imagens lindas, terríveis e patéticas.
Transforma-nos
em celebridades momentâneas.
Nos expõe à nudez virtual.

Em tudo que postai, celebrai.
Ave Internet!
Minha grande dama,
rainha dos meus vícios intelectuais.

e se a luz acabar e eu não tiver 3G???, fevereiro/2011

VIDA LOKA

Era muito louco. Tinha 885665657765 contatos nas redes sociais, seu estatus era sempre "disponível". Em show de rock, vestia preto. De pagode, abria a camisa de botões para que a corrente de ouro com a letra "K", gigantesca, aparecesse bem. Na balada, exercitava sua dança intuitiva, sem compasso, braços ao ar. Enchia a cara com os 'compade' no posto de gasolina e amassava o carro novo em rachas pela avenida semi-pavimentada. Chutava mendigos magros e cachorros famintos. Era muito louco. Toda manhã tomava leite com achocolatado preparado pela vó porque fazia bem ao intestino.

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4925015-EI5030,00-Jovens+agridem+morador+de+rua+e+o+amarram+a+poste+em+SP.html
infelizmente, essa foi minha fonte de inspiração, fevereiro/2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DEFINA-SE

Tudo ia bem.
Reclamava de tudo.
Nunca teve opinião definida.
Pensava nas pessoas como em poesias.
Invejava o que os outros possuíam.
Cultivava plantas.
Amava somente o dinheiro.
Comia demais só pra dizer que se fartou.
Resgatava cãezinhos de rua.
Não enxergava maldade nas crianças.
Gostava mais do trabalho do que de si mesmo.
Se preocupava com o mundo.
Cuidado... eu posso escrever você.

muitos em um só, janeiro/2011

POSSIBILIDADES

não sabia o que falar se sentia confuso demais da conta não era o caso de se preocupar com problema alheio a todos sempre dizia que mente cabeça muito recheada de coisa não deixa a gente pensar o que realmente interessa a única certeza que tinha na vida era de sua consciência e do amor de Deus

pontue como quiser e veja quantas possibilidades, janeiro/2011

NOSSOS MELHORES PERSONAGENS

Vem amor, vamos entrar em um livro.
E escreveremos nossas histórias,
impressas com afeto.
Vem amor, vamos entrar em um livro,
onde a vida fica aparecendo e desaparecendo
a cada capítulo.
Vem amor, vamos entrar em um livro.
Saltar de letra em letra,
pular as páginas tristes,
negritar as alegrias.
Na contracapa deixamos nossa melhor foto.
Vem amor, vamos escrever nosso prefácio
de beijos e abraços.

Drummond  ta aí também?,  janeiro/2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O QUADRO

Ela sempre foi um ser humano especial. Nascera com o coração grande, de um tamanho tão imenso, que sempre cabia todo mundo. Por isso, virou artista. Construía uma realidade colorida, cheia de personagens peculiares, únicos, que povoavam e remontavam seu próprio Reino. Era a Rainha delicada daquele império que se fartava dentro do seu gigante coração. Um de seus desenhos foi parar na parede, óleo sobre tela. Belo dia, descobriu o inédito. O quadro havia se tornado tema de exposição. Curiosa, decidiu admirá-lo de perto. Com passos firmes, se aproximou da obra de arte que nascera em seu interior. Que bela imagem! Quanta cor! Quanto sentimento! Olhos cheios de lágrimas, não pensou duas vezes: pulou pra dentro da tela. E é lá que vive até os dias de hoje. É mais uma habitante de si mesma.

inspirado em minha amiga Nice Lopes, janeiro/2011

LUZES DA RIBALTA

Nosso amor tem vida própria.
Plantamos, regamos, floresceu.
Vive pra si, se alimenta daquilo que deseja.
Chega a ser egoísta: a si mesmo se basta.
Eu e você em conluio, damos as mãos,
e seguimos com nosso contrato de afetos.
Vejo esse carinho no palco,
num monólogo poderoso.
Nosso amor
sob as luzes da ribalta.

noite de verão, janeiro/2011

PACIÊNCIA

Não conseguiam mais relevar os pequenos acontecimentos.
A pasta de dentes que ele apertava, bem no meio do tubo,
era quase a proclamação de outra guerra mundial.
O bate-bate que ela promovia com as panelas,
aos guardá-las no armário,
soava como uma intimidação profunda.
E os dias seguiam assim.
Provocações involuntárias, reclamações silenciosas.
Mas ele, ao se deitar na cama olhava para ela em pose de "já peguei no sono".
Imediatamente pensava: - Ela continua linda! E adormecia.
Ela, notando a movimentação abria os olhos: - Sou mesmo invisível...
E deitados, em seus sonhos, se amavam como antigamente,
e como desejavam naquele momento.

Por que não falamos a verdade? , janeiro/2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

BOM SENSO

Cuidado.
Nem todos estão preparados para ouvir alegrias.
Para quem não entende o que se passa
no interior de um corpo em festa,
a felicidade pode até soar ofensiva.


nem toda recepção é calorosa, janeiro/2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

TUM! TUM!

sou um coração
pulsando sem parar
batendo palmas para quem amo

para meus amigos, janeiro/2011

FIÉIS E GENEROSOS

Vamos embora, companheiro, vamos!
Eles estão por fora
do que eu sinto por você.

Olhando para minha cachorra Magali, me lembrei dessa música dos Mutantes, janeiro/2011

POLITICAMENTE CORRETA

Sentia-se mal.
Sabia que era praticamente uma criminosa.
Aquela culpa que a consumia...
Pela janela do carro, ainda conseguia enxergar o que havia deixado na estrada.
Ele ali, abandonado, vagando...
tentando fugir por entre os carros que seguiam em alta velocidade.
Os motoristas,
em seus vidros escuros e temperatura ambiente, pensavam:
- Que absurdo!
- Quem o abandonaria dessa forma?
- Essa pessoa não tem coração?
Aos poucos foi tomando distância
até que ele desapareceu do seu campo de visão.
Prometeu nunca mais jogar um saco plástico pela janela.

abandonar cachorro pode? , janeiro/2011

PROMESSA DE ANO NOVO

Entrou o ano decidido a largar o cigarro.
Dono de uma memória invejável, mantinha tudo sob suas rédeas.
Começou janeiro em ritmo frenético, esbravejando, braços se movimentando no ar:
- Não esqueça do e-mail!
- Já localizou o documento?
- Avisou todo mundo?
- Já fez as ligações que te pedi?
- Encomendou o presente da minha mulher?
Lembrava de tudo.
Menos de parar de fumar.

Para alegria de meu amigo Paulo Mota, janeiro/2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ESPERANÇA

Tenho certeza de que a felicidade
está com as portas escancaradas pra mim.
Espero ansiosa pelo último ato da peça.
O gran finalle!
As palmas!
Assim como a criança que,
satisfeita,
aguarda a sobremesa.


Meditando em Deus e em sua promessa pra nós, janeiro/2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

FINGIMENTO

Sempre chorei por pouco
Sofri as besteiras dos nãos que recebi
e ainda recebo
Mas quem me nega, nem percebe


* somente matutando, segunda-feira preguiçosa jan/2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É PRIMAVERAAAAAA

A mente floresceu
Folhas fresquinhas
Botões de rosa
Pequenas margaridas
nos pensamentos
É Primavera em meu coração.

manhã de quarta nublada, janeiro/2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A TERRA É BLUE

Havia chegado ao máximo.
Cosmonauta!
Conheceu o planeta por fora, como pouquíssimos.
Flutuou no espaço.
Olhando a Terra de longe,
lembrou-se da condição humana e deixou escapar:
- The Earth is blue!

* será que Yuri Gagarin pensou mesmo isso?, janeiro/2011

INGENUIDADE OU IMENSO AMOR

O homem e
seus pés inchados e sujos.
Dia após dia, na mesma calçada.
Invisível para a maioria.
Mas a menina o enxergava,
todos os dias de suas vidas.
À noite, ela matutava:
será que tem lençol?
será que tem cobertor?
será que tem fome?
será que ainda está vivo?
E adormecia em sua ingenuidade.
Mais profunda que todos,
enxergava as relações mais subterrâneas.
Via mais do que o olhar daqueles que não queriam ver
e não verão.

* janeiro/2011

PRISÃO

O menino corria
de um  lado para o outro,
sem parar.
Caiu, se machuchou, abriu o berreiro.
- Eu te avisei. Engole esse choro -
a mãe, em tom de ameaça.
Mania que o povo tem
em delimitar a vida da gente
de acordo com o comportamento padrão.

*  inspirada na frase de uma crônica de Zilmara Dahn, janeiro/2011

ETERNIDADE

Queria escrever como o autor medieval
que lambe o papel com sua pena,
criando, sem saber, canções para a eternidade.
Queria escrever como Clarice
que pousa a tinta sobre a mesa,
criando, sem saber, versos para a eternidade.
Mas escrevo simplesmente
para estar mais próxima de Deus.
Porque escrever me eterniza a alma.

* manhã de janeiro, 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ASSIM COMO EVA

Mulher:
obra prima
de porcelana
cor de rosa

*presente para minhas amigas, janeiro/2011

IMPOTENTE

Saudade é mesmo uma palavra triste.
Não há como impedir sua presença.
Intrusa e mal educada,
como uma criança mimada.

* saudades... , janeiro/2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

FILHOS DO OCEANO

Nossos ancestrais decidiram ficar aqui
a qualquer custo
e enfrentar o domínio do gelo.
-  Essa é a nossa história!
Nessa caminhada encontramos imensas pedras brancas.
Esses icebergs são como grandes vagabundos
pêgos dormindo pelo inverno.
Às vezes precisamos fazer longos desvios
para contornar esses gigantes adormecidos.
São milhares de passos.
Então, vem o Sol...
e o frio perde sua arrogância;
agora, geme sob nossos pés.
Andarilhos do gelo,
chegou a hora da metamorfose!
Seremos filhos do Oceano!

*meditando em Deus e em seu imenso amor através de Jesus, janeiro/2010

SONHOS ACESOS

Mal a vida desponta
e temos que cobrí-la com nossas penas.
Escondê-la do frio que ronda
esse coração minúsculo e pulsante,
escondido na casca vulnerável,
nessa grande terra gelada.
Aqui, mais do que em qualquer lugar,
é preciso de muita vida
para construir a vida.

*refresco pra mim, janeiro/2010

O MEU SOL

Certo dia, Ele me perguntou:
Você abriria a porta do seu mundo gelado?
Do seu deserto branco?
Vou fixar meu olhar além da planície, da neve.
Quando o gelo se derreter, se converterá no mar...
aí você vai ver que lindo pode ser!
E o Sol beijou meu coração de gelo.
E Ele brilha pra mim.

* meditando sobre meu encontro com Jesus, janeiro/2011

FLUTUANTE

Não existe lugar mais seguro do que meu carro.
É nele que ergo as janelas como se fossem um muro,
feito de vidro e película negra:
ninguém me vê, eu observo o mundo.
É ali que me disponho a matutar.
Onde os pensamentos mais perigosos
e as saudades mais absurdas
podem circular sem medo do dedo estendido.
Entre uma parada e outra no semáforo,
distribuo minha atenção entre a rua, as pessoas,
minhas memórias.
Estou livre de todos e de mim.
Não por estar no controle.
E sim por estar flutuando sobre rodas
com a mente ao vento.

*tarde de muito calor, jan/2011