terça-feira, 31 de julho de 2012

BANHO DE RAINHA

Entrou no chuveiro decidida, como alguém que invade o reino alheio
com a certeza de que carrega mais homens no exército.
A fumacinha que vaporiza o ar é gelo seco,
indicando o início do espetáculo.
Com as mãos em cuia, faz sua lagoa,
banha o rosto no seu próprio rio.
As mãos em concha repousam sobre os peitos.
Aos poucos, permite que o manto d'água transparente
passeie sobre eles e o corpo inteiro,
escorregando e arrastando tudo,
como ribanceiras.
Agora, a cascata despeja seu brilho sobre a cabeça.
Os dedos, em luva de espuma,
fazem a coroa: cheiro de morango.
Imperializa-se a ela mesma, sozinha.
É sua própria Rainha.
Vê a água branca indo embora
e com ela, seus medos. Adeus.
O resto é espuma, é spam.
No vidro embaçado escreve seu próprio nome, o dele,
escreve um desejo.
Isso é que eu chamo de um banho de ilusão.

julho/2012

VALIOSOS CHATOS

Dê graças a Deus pelos chatos.
O que seria do bacana
não fosse o mala se revelar?

jullho/2012

SINCERO

Era sério e fechado.
Só a procurava
porque a amava muito.
Homem assim
não bajula.

julho/2012

CARREIRA SOLO

Elaborando um repertório
cheio de músicas pré escolhidas,
percebo que meu roteiro saiu do programa.
Na verdade,
o que eu pretendia falar mesmo
ficou esquecido junto a outros discos
no fundo da prateleira.
Sobraram
algumas amenidades,
frases soltas de jazz.
O meu problema:
quanto te vejo
e quanto tu me olhas,
perco a coragem de ser alguém
e sou apenas eu mesma:
sem violão, sem banda,
cantora solo,
sólo me.

julho/2012

O OUTRO LADO

Pimentorium
in anus outrem
refrescus est.

Só uma bobagem (hehe), julho/2012

O VALOR CORRETO DAS COISAS QUE EU ENCONTRO POR AÍ E NÃO CONSIGO MENSURAR COM INTELIGÊNCIA

Só dê valor a quem vale a pena.
O resto, deixa passar.

julho/2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

CAFAJESTES DE PRIMEIRA

Os cafajestes não têm sexo, são uma classe andrógina.
São homens e são mulheres.
Têm atitudes singulares,
independentemente da classe social,
ocupação profissional,
qualidade intelectual.
Os(As) reconhecemos pelas qualidades...
as qualidades que os(as) tornam assim,
cafajestes.
Um(a) verdadeiro(a) cafajeste não diz sua opinião
só pra ver o outro se matar
tentando agradá-lo(a).
Faz propaganda enganosa,
corpo mole,
não diz que gosta e nem que odeia.
É sempre meio-termo.
Não se compromete, não se deixa envolver.
É incapaz de amar de verdade.
Não carrega uma pasta,
e sim uma merendeira.
O que está ao lado do(a) cafajeste
não reconhece-o(a) de bate-pronto;
até demora pra entender o que acontece.
Na verdade, quando o(a) encontra,
confunde-o(a) com o amor de sua vida.
O(A) companheiro(a) do(a) cafajeste
é chamado(a) por aí de pessoa negativa:
porque torce pelo pior para não sofrer depois.
O(A) cafajeste aparece em seu mundo
mas nunca mostra o dele(a).
E o suspense do(a) cafajeste é sempre abandonar a pessoa.

julho/2012

domingo, 29 de julho de 2012

TRIBUNAL DOS FÃS

A sujeita deslizou. Embora namore um dos jovens mais desejados no mundo - e ele nem é tão lindo assim - trocou-o por outro. Mas nem foi uma história arrebatadora. Deve ter sido um caso à toa, "coisa de artista" como justificam alguns. A traição acometeu um dos casais mais famosos do planeta. Uma coisa é descobrir uma traição. Outra é acordar e o mundo inteiro saber da escorregadela ao mesmo tempo que você. Pois não é que a TV montou um tribunal para julgar a pecadora?

De um lado, os que advogavam em favor do traído.
Do outro, os que endeusavam a adúltera.

As fãs enlouquecidas não entendiam como ela poderia tê-lo trocado por outro. Irritadiças criticavam os "invejosos" que dizem ser este, na verdade, o papel da vida dele... de namorado traído. Não, não deixaram espaço para dúvidas do tipo: ele é grosseiro, não abre a porta do carro pra ela, só vive de mal humor, se acha o máximo. Não importa se ele é um bom ou péssimo ser humano, não tem jeito, ele é a vítima. Ela teria de aguentá-lo porque, afinal, ele é imortal.

As que admiram a atriz errônea defendem que as fotos foram montadas, que não condizem com a realidade. O tênis teria mudado de cor, o cabelo também. Em nenhum momento argumentaram que ela é humana, que não vive o romance da ficção na vida real. Não ponderaram que ela poderia estar cansada do namorado lindo, porém chato; educado, porém vaidoso. Que, assim como qualquer mulher, tem um coração que pertence a alguém e  que, quem sabe, se encantou por outra alma, talvez mais experiente... sem, contudo deixar de amar seu companheiro. Não, ela não poderia ter errado. Ela é a própria personagem que jurou amor eterno.

O fato é que a jovem atriz de 20 e poucos anos apareceu em folhetins da China ao Brasil, do Canadá ao Polo Sul, dando amassos no parque, beijos no carro, mãos envoltas no pescoço. O partner era o diretor do filme, um homem bonito e 20 anos mais velho do que ela. E daí se é verdade ou não? Será que nem isso ela pode se dar ao luxo, já que não tem liberdade para praticamente nada nessa vida? Deixem a guria amar, trair, acertar, odiar!

O veredito final: a moça errou, e feio. "Mas que não se repita", avisaram. Como se a vida do casal pertencesse a todos os fãs do planeta terra. Um relacionamento vivido por quem não tem seu próprio pra cuidar ou descuidar. É, Bela... ainda bem. Pior se a jovem atriz tivesse sido condenada ao ostracismo...

julho/2012

A VERDADEIRA LIBERDADE

Estavam no metrô.
Ele olhou-a bem nos olhos.
Nesse momento,
a essência jorrou.
Sua íris a capturou na retina.
Encarcerada ela está.
Aprisionadamente
amada e feliz.
Livre para ser dele.

julho/2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

INDECENTEMENTE POÉTICA


Nem sei se quero pensar em mais nada.
Fico apenas imaginando
quando você vai passar naquela esquina.
Te espero todos os dias no mesmo lugar.
Quem sabe, quando eu finalmente te encontrar,
arrasto-te para um beco qualquer.
E ali mesmo, me apresento.
Beijo-te indecentemente na testa.
Me insinuo recitando poemas do Pessoa.
Danço como se dançasse
pra ninguém ou só pra ti.
Me multiplico em mil.
Caprichos de gueixa.
Preciso confessar:
tenho pensamentos sinuosos a teu respeito.
Que bom. Fantasia não tem pedágio.

julho/2012

sábado, 21 de julho de 2012

MAGALI É MEU DIVÃ

Quando estou na dúvida ou precisando desabafar, é ela quem me ouve. Olhos nos olhos, conto tudo nos mínimos detalhes, sem ser preciso me apressar para chegar logo ao fim da história. Magali é atenciosa. Ela me escuta. Escuta tudo. Não palpita; não pondera dizendo que estou fazendo tudo errado; não me recrimina. É uma realidade off tube.  "Você sabe, Magali, o que me aconteceu hoje...", "Nossa, Magali, preciso te contar essa...", ".. e de tudo que eu escutei, Magali, só posso tirar a seguinte conclusão:...". Substituo Freud pela sabedoria silenciosa de Magali. Porque nossa simbiose é perfeita.

Inspirada em algumas ideias de Silvio Luis (creiam!), julho/2012

A CULPA

Não importa o quanto você já viveu,
sempre é tempo de errar para se arrepender depois.
Sabe aquelas coisas que pensamos:
Meu Deus, como eu pude??
O tempo passa
e a gente não se perdoa por certas situações
e fica se martirizando.
Parece que emburrece,
não se livra do problema antes dele chegar.
E aí termina com a fatídica pergunta:
Meu Deus, como eu pude??
Minha sorte é que não sou famosa,
não saio em capa de revista,
nem na sessão de fofocas do jornal.
Ainda bem.
Ninguém vai saber e a culpa vai passar.
Aquele petit gateu... oh céus!

é verdade que toda mulher precisa emagrecer 2 quilos?,  julho/2012

COMPUNGIDA

Se arrependimento
matasse,
eu já tava
Tutankamon.

julho/2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A ANTA

AAAAAAH!
Ahn...
Hã?
Ah!
HÁ.
Aaaaah!
Ahn?
Hahahaha!
Ahá!!!
HA HA HA.
Há!!
Ahnnnnnnn...

Mas ele era tão topeira
que nunca entendia
o que ela queria mesmo dizer.

julho/2012

SENHORES E ESCRAVOS

Essas palavras que me surpreendem,
sempre me absorvem.
Deixando-me em lugar de honra e,
às vezes, de desonra.
Me expõem, eu não ligo.
Juro que nem vou me preocupar com isso.
Elas praticamente mandam em mim.
Me embaralho nesses pensamentos
que pestanejam
e sobejam qualidades e desejos.
Perigosas mesmo
são aquelas  palavras que saem da boca.
Libertam ou aprisionam.
Somos senhores das palavras não ditas.
E escravos das palavras ditas.

julho/2012

O DESTINATÁRIO

Muita pretensão sua
ter certeza de que os dinossauros
foram criados pra ti.
Ou então que és o centro do mundo.
E, ainda, que essas são as suas memórias.
Ninguém está nesses pensamentos,
nem você, tranquilize-se.
O que escrevo pode ser pra ninguém
ou pra alguém.
São apenas amarras de um vínculo exigente,
somando uma dúvida em cima da outra.
Só assim posso continuar a viver.
Porque, in fact,
as pessoas se apaixonam é na conversa.
Conversa é muito sexy, diz uma amiga minha.
É, Mônica...
tem que ter muita coragem mesmo pra fugir...

julho/2012

BEICINHO

Eu não gosto de ser contrariada. Mentiroso aquele que diz suportar numa boa o desagravo. No fundo, ninguém aceita. Na verdade, toleramos para continuar vivendo. Pior ainda quando somos combalidos por aquilo que foge do nosso controle, que depende apenas de uma vontade sub-humana, ou de outro alguém ou de sei lá o quê. Quando isso acontece, fico triste como criança que é vetada de ir ao parque de diversões. Dá vontade de pedir: - Ei! Você pode me vomitar, por favor? Dúvidas, tenho muitas dúvidas. Diz o comercial de TV que são as perguntas que movem o mundo e não as respostas... Hoje, minha mente é blindada por loucos raios de dúvidas. Será que é por isso, então, que continuo caminhando? Ou é esse misto de dúvida e desejo que continua legislando sobre mim, me colocando numa condição de amor e inveja, desse mundo que quase chega a estourar as veias do meu coração?

julho/2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

ÓBVIO

Eu tava pensando ensolaradamente
se esse dia claro não foi criado 
só pra eu caminhar na praia com você.
Tava pensando mesmo
se não podia
discutir sobre arquitetura contigo
já que nem temos tanto bom gosto assim.
Eu tava pensando na verdade
se aquele doce que eu vi na vitrine
não seria ótimo como nossa sobremesa.
Tava pensando apenas
se você não queria ler pra mim
aquele meu livro preferido.
Eu tava pensando
cá com meus botões
se a gente não podia trocar de agenda
só pra um decidir o melhor compromisso
para o outro.
Tava só pensando
de repente
se a gente algum dia
poderia se encontrar.

julho/2012

MARINA COMEÇA COM MA

Há alguns dias acordo de madrugada e o sono não prossegue. Novidade pra mim. Logo eu que durmo feito aquelas esculturas moais da Ilha de Páscoa. O pesadelo de acordar para viver torna-se ainda pior quando tenho que madrugar. Meu metabolismo é sonâmbulo. Levanto minha alma da cama, no entanto, continuo a dormir. A caminho do trabalho, pestanejando e pensando na vida, admirando o sol frio de inverno, passa a menina e a mãe.
- Marina começa com Ma! - e prossegue, saltitando entre as folhas secas, pisando na terra.
E eu ali, preocupada com a reunião, com as contas pra pagar, com o frio no Sul. Que vergonha eu senti. É tudo tão simples... Marina começa com Ma.

julho/2012

FREVO NA MENTE

Sou muito esperta.
Jogo minhas teias de areia
para capturar.
Explico minhas ideias
com franjas,
só pra não ficar dúvidas.
Sou espirituosa.
Me divirto com pouco,
como pinto no carrapicho.
Sempre chego sozinha
porque uma andorinha só
não faz questão.
Tenho um frevo na mente,
por isso estou aqui,
descontruindo os ditados.
Só pra variar e contrariar.

julho/2012
teias de areia = teias de aranha
explicar com franjas = explicar com laranjas
pinto no carrapicho = pinto no lixo

CIDADÃ DE ONDE?

Estou entre a Serra e o Mar.
Entre a Montanha e a Água.
Entre a Paulista e o Boqueirão.
Sem sotaque definido,
sem uma indumentária
daquelas que identificam a pessoa imediatamente.
Formada por recortes
de vários sujeitos e predicados
sigo-me como uma estrada
de uma única reta,
uma única melodia.
Se há curvas na subida ou na descida,
são apenas para permitir
que meus pensamentos circulem
e se movimentem.
Eu sei,
minha perseguição é inglória.

julho/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

SARAMAGUEANDO

Sonhei que viajava com você no galeão, que navegava pelo mar sem medo de tubarão, para o Oriente sempre em frente íamos então, longe da nossa casa longe do nosso sertão, a sós a bordo pelos mares, destino Japão. Um baú com samba caipirinha com quentão pra trocarmos com arroz karatê meditação, pra trocarmos com ninja tatame com precisão. Sonhei que viajava com você em um balão que flutuava muito acima de um vulcão em erupção, para o Oriente, vento quente pés longe do chão, voava sem ter asas como a imaginação, nós dois bem alto sãos e salvos rumo ao Japão. Numa sacola mel laranja manjericão, pra trocarmos com saquê com shoyu dedicação, pra trocarmos com judô ofurô com decisão. Sonhei que viajava com você num avião que deslocava-se quebrando a barreira do som, para o Oriente, velozmente era a direção, batia suas asas a nave total perfeição, pra ser exato voávamos indo para o Japão. Na mala cuia carne-seca farinha e feijão, pra trocarmos com sushi com banchá com devoção, pra trocarmos com hay kai samurai com vídeo som.

Cássia canta lindamente, julho/2012

DOIS CORAÇÕES

- Somos dois corações separados pela razão.
- Talvez o meu, o seu não.
- Se és que tem coração...
- Se é que estou incluído em algum lugar.
- Olha, nem venhas me dizer que é precipício, daqueles que só de olhar pra baixo dá frio na barriga.
- Cansei de viver pendurado.
- Te julgo, te julgo mesmo.
- Tudo bem, te dou esse direito.

Da série "Diálogos delirantes", julho/2012

MINHA PEQUENA REVOLTA

Se tem algo que me tira do sério é o fingimento descarado. Quem aparenta ser o que não é. Quem finge ser samaritano sendo, contudo, um fariseu. E como é fácil para o indivíduo manter a capa de boa-gente, como é fácil. Não dá nem tremedeira na hora de mentir. E o pior: todo mundo acredita. Me arrependo mortalmente de defender algumas pessoas e descobrir, a posteriori, que elas não mereciam meu empenho em sua defesa. Nestes momentos, sinto-me imbuída de uma inocência quase ignorante. Me faz mal. Sempre soube que minha intuição funcionava bem, pra ela não tem nuvem que impeça seu pleno funcionamento, suas antenas estão sempre em alerta. Bobagem minha mesmo é insistir em não acreditar no que meus olhos não vêem. Porque meu coração sente, avisa, grita, esperneia. E eu mando-o calar a boca e recolher-se à sua insignificância. Há algum tempo, os mais velhos me dizem que em toda a nossa vida, encontraremos pouquíssimas pessoas em quem podemos confiar plenamente. Sempre duvidei dessa tese, considerava exagero ou coisa de gente amargurada. Hoje percebo o quanto esse conselho foi valioso e eu, porém, joguei-o no lixo. Sobrevivo agora de minhas más escolhas. De ter eleito os confidentes errados, de ter confiado de maneira despreparada e até presunçosa. Continuo, então, a labuta sozinha, sozinha... Ah, mas se eu tivesse coragem falava um baita palavrão. Ou saía contando pra todo mundo o que aconteceu, mesmo que ninguém acreditasse porque essa pessoa "é tão legal...". É. É a vida.

Revoltinha..., julho/2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

DELICADEZA

Para bom entendedor
meia patada
basta.

julho/2012

AS TARTARUGAS

Hoje eu acordei pensando em tartarugas e na autosuficiência delas para com todas as coisas. Lentamente, seguem sua vida, sem se importar com o valor do dólar ou se vai chover. Não escolhem roupas, não precisam levar guarda-chuva, não se importam se ninguém ligou no celular. Abençoadas tartarugas que vivem seus dias na mais absoluta complacência e felicidade. É um bicho diurno, que sabe andar em grupo. Patas curtas e fortes, dura 80, 100 anos, as fêmeas são maiores que os machos. Convivem até com jacarés. As tartarugas têm um casco tão duro que resiste até mesmo aos dentes do alligator. Quando na natureza, se alimentam de folhas, frutas e bebem muita, muita água. Caminham devagar, apreciando a paisagem e analisanto todas as coisas. Pensam, pensam, pensam, e tomam sempre a melhor decisão por si mesmas. Sem precisar pedir conselhos para ninguém. Completamente realizadas.

julho/2012

PRÁTICA

Não se ocupe com tudo.
Mantenha-se
ocupada com o que interessa.
A sua vida.
E só você pode saber
na verdade
onde ela habita.

Cansada de perder tempo, julho/2012

ESPERANTO

- Queria ver você hoje.
- Tenho mil coisas pra fazer do trabalho.
- Queria muito bater papo contigo, olhar pra você, ver como estás.
- Minha arrumadeira não veio esta semana, a casa tá uma bagunça.
- Vamos tomar alguma coisa? Ganhei um vinho branco que é uma delícia.
- E o pessoal do condomínio marcou uma reunião às 8 da noite. É incrível isso, eu...
- Você podia fazer aquela quiche de legumes que eu adoro, de sobremesa...
- ... já falei mil vezes que esse tipo de reunião tem que ser no fim de semana. Acho que ninguém por aqui...
- ... podíamos ver aquele filme que estamos enrolando pra assistir, lembra que o ...
- ... e o pior, ninguém tem coragem de reclamar sobre o barulho que o cachorro faz...
- ... prometo que desta vez eu não durmo no meio do filme, tá bom. De repente...
- Você tá falando comigo?
- Sim, estou.
- Que língua é essa que eu não entendo? Tá falando esperanto?
- É... acho que sim.
- Bom, vou nessa.
- Volis vidi ŝin kaj brakumi ŝin.
- Hã? Que é isso?
- Esperanto.
E desligou o telefone.

Da série "Diálogos delirantes", julho/2012

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ESSE É O MEU CLUBE

Caminho a passos largos; às vezes, curtos.
Tem dias que eu foco no meu destino;
em outros, deixo-me olhar para os lados.
Sigo escutando o barulho da rua;
mas de repente prefiro ouvir Cássia no mp3.
Posso ir de tênis ou de salto 15.
De regata branca ou cachecol e luva.
Calma ou nervosa.
Chorando ou sorrindo.
Prossigo.
Vou adiante.
Persisto.
Permaneço.
Perduro.
Mas continuo andando.

julho/2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

SPEAK LOW

Quando vieres falar de amor pra mim,
fale baixo
e devagar.
Prometo fechar meus olhos
pra te escutar melhor.
Assim,
congelamos tempo e espaço.
Ficamos ali,
lambendo nossos sentimentos,
surdos com nosso bem-querer,
mudos pra todo o planeta.
Uma roda gigante
parada lá no alto.
Só eu e você.

me inspirei em uma canção que Marisa Monte gravou (Speak Low),  julho/2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

ELA...

Hoje faz um mês que ela apareceu, ´
modificando tudo, pra sempre.
Sem fazer força,
sendo ela mesma.
Apenas vivendo seu dia a dia.
Despertando o que há de melhor em nós.
É um milagre! - diriam os religiosos.
É o cosmos! - argumentariam os místicos.
É o avanço da medicina! - afirmariam os cientistas.
É apenas mais um. - aliviriam os descrentes.
É ela! É ela! - dizemo-nos.
Há 30 dias bebemos desse sorriso.

Para Manuela,  12/julho/2012

CLASSIFICADOS

Aluga-se
Uma alma com muitos defeitos irreparáveis.
Cheia de receios, cansada de buscar o foco,
que ninguém aparenta gostar.
Uma alma para investimento a longo prazo.
Que oferece bons resultados, às vezes até acima do mercado.

Troca-se
Uma vida sem emoções por alguma outra
cheia de bons acontecimentos full time.
Que busca lucidez.
Uma vida que ninguém aparenta querer,
mas que deseja ver flores na neve.

Vende-se
Um coração cansado.
Cansado de repetições que decepcionam quase sempre.
Combalido pelo tremendo esforço feito por muitas léguas.
Que ninguém aparenta amar.
Um coração que pensa, ainda pode ser feliz.

julho/2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

PARA ROMA COM AMOR


Gosto de viver. Mas, sinceramente, a vida parece nos sufocar de vez em quando.
Ontem fui ao cinema e vi um filme do Woody Allen, uma linda película. Bom humor e inteligência ao retratar as relações humanas, a lealdade, os sonhos esquecidos e a importância do carpe diem. Assuntos básicos, não é? Pois eu te digo que não. Somente quem tem coragem pensa nisso. E quem pensa, sofre. Não tem fim. Saímos dali pra tomar um café. Não, eu não gosto de capuccino. Tá, eu sei que é chique e tudo mais. Mas eu decidi que estou cheia de opiniões. Vou só dizer a verdade pra ver no que dá. Preferi chocolate com nutella, beeem doce, beeem escamoso, beeeeeeem cheio de chocolate. Vi tantas fisionomias diferentes, tanta gente bonita de olho claro e eu naquele frio de doer os ossos, toda cheia de roupa, cachecol, bota, meia. Olhei em volta, vi todo mundo feliz, com uma cara meio blazé, tipo "tô sempre aqui na Paulista". Ah! E eu com meus pés gelados, esses meus olhos jaboticabais, tão incompetente para mudar os fatos, meu destino ou pra sair gastando tudo com um american express. Atravessei a avenida tão bonita, iluminada, aquele vento cortando meu rosto e entrando por baixo do casaco. Pegamos o carro, atravessamos a cidade vazia, solitária. Tudo bem, eu sei, não é nenhuma tragédia dantesca porque eu nem sou tão malandra assim.

julho/2012

A ARTE DE ESCREVER

Gosto de escrever porque as palavras me permitem
ser outras pessoas.
Aqui, posso me apaixonar perdidamente.
Amar inescrupulosamente.
Detestar alguém amavelmente.
Viver em êxtase por um acontecimento qualquer.
Descrever um almoço com ator famoso.
Um bate papo com um cantor de multidões.
E ai de alguém que duvidar das minhas histórias.
Porque esse mundo é meu, só meu.
E nunca saberás quando serei eu mesma a escrever.
Então, tens duas escolhas:
ou lê e aceita o veredito,
ou tenta me decifrar.

Da série "Arte em tudo", julho/2012

MEU BEM


Bastou o outono soprar um vento diferente
pra você se dar conta
que a flor no meu cabelo ainda é aquela.
Meu olhar ainda é o mesmo.
O braço ao meu redor é teu.
A boca que me beija é tua.
- Não pense nessas mazelas,
isso aqui, sim, é amor de verdade.
Tens razão.
Não percamos mais tempo, então.
Desfaça esse novo nó em meu coração
e me dá tua mão.
Pois dela, já conheço a forma.

julho/2012

ARTE DE NÃO SER ARTISTA

Não, não sou artista.
Não tenho a mente tão aberta assim.
Não me livro tão facilmente do que me faz mal.
Nem consigo me lembrar de um passeio divertido
quando a única opção é a TV.
Essas são apenas as minhas reflexões da meia noite.
Não sou artista mesmo.
Na verdade, nem sou tão boa companhia
pra passear na praça.
Não, não vou discutir aquele filme iraniano com você.
Também não irei ao estádio
torcer pelo seu time e encontrar personagens.
Não insista, não escreverei mais um poema.
Já disse, não sou artista.
E não seja hipócrita.
Não bata a porta com raiva,
nem me humilhe na frente dos outros.
Não depois desse nocaute.
Eu não ligo. Não sou artista. E isso é uma bênção.


Da série "Arte em tudo", julho/2012

PRISIONEIRA

Passei muito tempo enganando a mim mesma. Achando que podia resolver todas as questões sozinha. Achando que seria forte o suficiente para aguentar o nocaute. Decidida a enfrentar riscos em nome do que achava ser felicidade. Tolice minha... Se tem uma coisa que é impossível ao ser humano, é negar sua essência. Mesmo que ele tente. Mesmo que ele se dedique à causa. É simplesmente impossível. E nesta história, a conclusão à qual chego é que realmente não estou preparada para tomar minhas decisões sem o aval de Deus. É Ele quem me entende mais profundamente do que qualquer coisa ou alguém que eu me lembre neste momento. Isso não é filosofia barata nem apoio emocional em momentos de crise, não, não é isso. Poderia até mesmo ser um grito de socorro, mas também não o é. Infeliz ideia que eu tive um dia de achar que era forte o suficiente para ser moderna. Essa liberdade me encarcerou. Então, destranca-me, Senhor, já não suporto mais essa prisão.


julho/2012


terça-feira, 10 de julho de 2012

VINGADOR

Gostaria de avisar
que te mitifiquei.
Coloquei-te em um pedestal
onde todos agora
te observam e pedem e prometem.
Praticamente te santificam.
Justamente
o que você mais temia
aconteceu.
Essa é a minha vingança.
 
Deus me livre e guarde!! ,  julho/2012

TEMPO ASSASSINO

Cansei de matar o tempo.
Porque o tempo
mata a gente
na unha.

junho/2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

SE EU FOSSE CAPAZ

Mas a palavra doce ainda é minha.
Tô chegando à conclusão
que eu nem preciso de felicidade pra viver.
Nem vou ficar pensando
se você ainda pensa em mim
lá no fundo da gaveta.
Também nem vou levar em conta
quando as pessoas me disserem:
- ah! eu não deixava!
Cansei de buscar o foco, o resultado, a conquista.
Vou apenas caminhar
com minha elegância matinal.
Porque ela me liberta.

julho/2012

UM DOCE CHAMADO NEIDE

Hoje encontrei a Neide.
Cheia de problemas, de neuras, de dúvidas.
A crise em pessoa.
Mas Neide é doce feito suspiro.
Sempre acha que é somenos,
vive desconfiada de quem lhe agrada,
tem medo de arriscar.
Vez por outra, recebe elogio, mas no fundo pensa:
- Deve estar querendo alguma coisa.
E se Neide tem uma qualidade, é esta:
não desiste.
Mesmo achando que não encontra a felicidade.
Mesmo a cada bofetão do sofrimento,
ela dá uma ordem ao seu coração:
Baaaaaata!!!´
É, Neide, ser doce é uma escolha.
Assim como balançar a corrente caso sejas um cão furioso.

julho/2012

CARBOIDRATANDO-ME

Li no jornal que os carboidratos são combustíveis perfeitos para o corpo e para o cérebro.
Eficiência pura.
Direto ao ponto.
Assim que penetra no organismo tem início a corrida pelo sucesso.
O carboidrato ignora as dificuldades.
Luta como soldado que não se embaraça com negócios dessa vida.
Atleta coroado, segue as regras, legitimamente.
Penso agora em tornar-me um macarrão.
Carboidratando-me com as mazelas e as doçuras da vida.

julho/2012

A ARTE DE SER MULHER

Nanci vivia superficialmente.
Vivia em função do elogio do primeiro encontro.
Pensava, tinha razão de ser.
Se achava irresistível.
Mal sabia a nêga
que justamente este elogio
havia sido calculado para o abate.
E é assim que caminham as mulheres.
Considerando-se incríveis no massacre.
Achando tempo para fazer as unhas.
Não conseguem perceber
que não há poesia nessa dança
que nos espreme
garantindo ser doce a essência da fruta.

Da série "Arte em tudo", julho/2012


THE PRETENDER

Acordei mesmo decidida a seguir para a guerra.
Abri a porta avisando: trouxe reforços!
Levei comigo meu cachorro, o Barnabé.
Sim, ele é todo meu.
Me defende de ameaças.
Me adora sem saber o porquê.
Não pede nada em troca.
Só quem ama suporta o insuportável.
Barnabé não sabe falar,
logo, não sabe mentir,
apesar de ser macho.
E eu sigo assim.
Fingindo que sou corajosa.
Enganando com muito talento.

julho/2012

A SEMENTE

Todos os dias,
quando passava em frente à sua casa,
ele me olhava
com olhos de doer.
Em seu sonho, me raptava.
Em seu delírio, me conduzia pela mão.
Em sua loucura, beijava-me.
Eu sabia, sabia de tudo isso.
Mas fazia-me inocente.
E a cada dia, diminuía uma pedra
ao caminhar
em direção à sua janela.
Quando cheguei bem perto,
ele me viu.
E seus olhos me disseram:
-Estou à mão
de semear
em seu coração.


julho/2012

SACI CONTEMPORÂNEO

O Saci bateu na minha porta. Eu abri.
- Ué, Saci? Cadê o cachimbo?
- Parei com isso.
- Tá com uma prótese? O que aconteceu?
- Tava cansado de ocupar o acento preferencial.
- E essa bermuda jeans, é de marca?
- Comprei no shopping.
- E esse jeito de falar? Por que mudastes?
- Concluí o Ensino Médio.
- Trouxe um ipad? O que você tá vendo?
- Tô curtindo uma postagem do Curupira.
- É, Saci...É isso que dá... Folclore globalizado né...

viajando... , julho/2012

quinta-feira, 5 de julho de 2012

DONA SINHÁ

Veja bem, Sinhá,
quantas questões importantes
existem a tratar?
Então por que sinhazinha perde tempo
com pormenores?
Sinhá,
minha Sinhá,
não permita que esse relicário
se transforme em caixa de diamantes.
- Estou apenas observando...
Olha, Sinhá,
se me permite,
sugiro adotar uma decisão crucial.
Absolutamente crucial.
- Mas é só uma questão de fé...
Veja bem Sinhá,
são dois discursos absolutamente paralelos,
que nunca se encontrarão:
Um segue sem dificuldade,
e outro entra no silêncio.
- Interessante solução... Esta glória de nada valeria se eu não tivesse companhia.
E Sinhá agradeceu,
então,
pela graça alcançada.

julho/2012

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A ARTE DE EXISTIR


existo
se
me
permito.

Da série "Arte em tudo", julho/2012

A ARTE DE SONHAR

Gosto de sonhar.
Principalmente no sono,
especialmente aqueles bem surreais.
Os sonhos
são momentos de indiscutível qualidade.
Vira e mexe sonho que sou rica, ricaça,
vou de jatinho, helicóptero.
- Conta pra eles quem assina o cheque!
Adoro.
Outro recorrente e clássico:
alguém me perseguindo,
querendo me alcançar.
E sempre é uma pessoa de sangue ruim
correndo sem entupimentos.
Sou demais, sempre me safo.
Também adoro
quando pessoas do meu paladar
me chamam para o palco.
Fico feliz
porque no sonho,
meu marketing é sem malícias
nem lingeries especiais.
É isso.
Sonhos são sonhos
e eu os aceito.

Da série "Arte em tudo", julho/2012

A ARTE DE DIZER NÃO

Acho ímpar quem consegue dizer não.
Um "não" cheio de propriedade,
de autocontrole.
Sem permissões
nem exceções deliciosas.
Isso sim é um tapa na minha cara.
Logo eu que sucumbo
na primeira menção de felicidade.
Os que dizem "não"
estão sempre certos
e convictos do que escolhem.
São corrosivamente felizes

Da série "Arte em tudo", julho/2012

A ARTE DA IGNORÂNCIA

Felizes daqueles cuja ignorância
é regra do dia.
É quase uma bênção.
Eles são simples,
geralmente sinceros,
inevitavelmente verdadeiros.
Não odeiam, não se esquivam, não se desfazem.
Têm sempre um "Deus lhe pague"
escondido no bolso.
E nem reclamam porque alguém
os acordou da soneca
em horário comercial.

Da série "Arte em tudo", julho/2012

LEIA A BULA

Olha moço,
sei que o médico recomendou.
Mas tome cuidado.
Veja a composição antes.
Não associe a outros componentes.
Entenda o princípio ativo.
Pondere no uso.
Analise as reações adversas.
Preste atenção nos sintomas.
Guarde em temperatura ambiente.
Eu estou avisando,
eu tenho uma série de contra-indicações.

A ARTE DO INSULTO

Você já notou que todos dominam a arte de insultar,
menos eu?
Que nem tentando muito
sai um insultinho,
digno de dar orgulho?
Porque insultar
não é fazer grosseria.
É me fazer de idiota
com toda elegância.
É me detonar
com finesse.
É esperar o momento
bem certo
e enfiar a faca de prata em meu peito.

Da série "Arte em tudo", julho/2012

VIDA BESTA

Sempre haverá o carente
e aquele que a gente escolhe desprezar.
A vida é besta, às vezes.
Hoje caminhei na praia
e vi um rapaz andando na orla,
catando latinhas.
Pensei: que vida desse moço.
Do outro lado,
uma senhora passeava com um lindo labrador caramelo.
Ele, não.
Ele come ração light, importada.
Considerei a vida besta por um momento.
Às vezes penso
que se tivesse dinheiro seria bem mais feliz.
Acho que seria.
Mas aí eu li o Junior, o SandyJunior,
dando piti porque disseram que não gostaram de seu show.
Me diz,
pra que trabalhar?
Tem tudo o que quer.
Besta.
Uma época achei que o amor fosse revolucionário.
Mas até hoje não entendi bem
o que é amor verdadeiro.
Não sei se é dedicar um livro a alguém,
como Saramago fez à Pilar que não deixou que ele morresse,
ou aguentar tudo de mim
e nem me comprar uma bala.
Será que os dois juntos existem?
Ah, mas nem estou aqui pra ser pessimista, porque eu não sou.
Não quero desbotar a alegria dos empolgados.
Quem sabe ter visão seletiva,
e ver o arco-íris mesmo com uma tempestade chegando?

terça-feira, 3 de julho de 2012

HONESTIDADE

Devo, não nego.
Escrevo quando puder.

Devo, não nego.
Me arrependo quando puder.

Devo, não nego.
Decido quando puder.

Devo, não nego.
Me ofereço quando puder.

Devo, não nego.
Fantasio quando puder.

Devo, não nego.
Digo a verdade quando puder.

Devo, não nego.
Abro a porta quando puder.

Julho/2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

TEMPOS MODERNOS

Incomodada ficava a minha mãe.
Hoje eu fico mesmo desesperada.

ME ODEIE ENQUANTO EU SAMBO NA CARA DA SOCIEDADE

Hoje acordei querendo encrenca,
querendo me vingar.
Vou fazer um samba de poucas notas
e fingir que é jazz.
Fazer um paracundê na high society.
Mandar Iaiá apreciar a vernissage.
A Nêga exercitar seu 'sapatinho'
bem no meio da valsa.
Soltar um baita desaforo
durante o discurso elegante.
Servir goiabada cascão
após algum prato da nouvelle cuisine.
É que tenho mesmo percebido
que um raio pode, sim,
cair duas vezes no mesmo lugar.
Só por hoje, vou ser assim:
uma imagem paralela que eu criei.
Então, 
me odeie enquanto eu sambo na cara da sociedade.

PATERNIDADE RECONHECIDA

Quero esta caminhada
segura como antes.
Ser chamada de ben-aventurada*,
a exemplo dos judeus,
cheios de significado e delicadeza,
que repartiam a mesa com seus filhos de coração.
Como criança
que recebe presente de quem confia:
não pergunta em qual loja nasceu,
quanto vale,
que atributos têm;
simplesmente rasga o pacote
e brinca.

*No judaísmo, há duas maneiras de se referir a um filho, citando o nome de seu pai:
Ben ou Bar, que querem dizer, filho de.
BarTimeu, era filho de Timeu.
BenJamim, filho da felicidade.
No entanto, há uma grande diferença à significância atribuída a esses prefixos, tornando suas essências completamente distintas.
Bar é filho da lei.
Ben é filho do coração.
Bar faz o que deseja,.
Ben escuta o pai antes de concluir.
Bar come das migalhas da mesa.
Ben se alimenta da mesa do pai.