Nascera aos 7 meses. Menina, não sabia andar, apenas corria. Moça, não esperava que os outros terminassem sequer uma linha de pensamento: sem cerimônia, se apressava em dar conselhos, dizer o que achava importante. Já adulta, não notava que sua impaciência, aquele desespero interno, a afastava de tudo e de todos que ela amava.
Não tinha tempo pra nada. Sempre preferiu os refrigerantes porque já nasciam prontos na geladeira. Mas sua mãe insistia naquele bendito suco de maracujá. A mãe seguia a mesma rotina, calmamente, semana após semana, preparando a bebida todos os dias, sem pressa alguma. Sempre gelada. Açúcar no ponto. Quando questionada pela filha, o porquê da mesma fruta, respondia com um sorrisinho e paciência materna: - É pra você ficar mais calma...
Mas ela tinha pressa. Com 13 anos já trabalhava. Aos 20 havia se formado em Economia. Subiu a serra, mudou de vida, tornou-se executiva de um grande Banco: salto alto, caminhar apressado, olhos no relógio dourado. Correu muito. Correu sempre. Quando a mãe ligava, nunca tinha tempo de conversar mais de 3 minutos. Um dia, o telefone tocou. Monossilabicamente, recebera a notícia de que sua mãe havia partido.
Largou o telefone sobre a mesa. Desceu a serra. Foi direto ao velório. Passou a noite inteira sentada no banco frio de cimento. Se despediu. O mundo, agora sim, parecia estar em câmera lenta.
No fim daquela manhã voltou à casa em que cresceu, onde disparava pelos cômodos. Entrou calmamente e observou os porta-retratos da sala. Quantos detalhes nunca havia notado naquelas fotos...Pela primeira vez, caminhou pelo corredor. Dali, já sentia o aroma do maracujá. - Está à minha espera - pensou. As frutas na cesta, apanhou uma em suas mãos e cortou-a ao meio, sem pressa alguma. Ficou observando a semente sangrar sobre a pia de mármore. E relembrando quanto tempo perdeu em não compartilhar daquele cheiro macio ao lado dela.
oficina de criação literária com João Carrascoza, novembro/2010
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