domingo, 22 de fevereiro de 2015

DAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO AFETO HUMANO

Nascemos sozinhos.
Vivemos sozinhos.
Morreremos sozinhos.
Crendice humana
é pensar que estamos acompanhados
em uma empreitada qualquer.
Por natureza,
o ser humano é feito só.
E conviver com a solidão lhe é imputado
para toda a vida.
Mesmo que se morra junto,
ninguém é enterrado junto.
Corações são habitados,
mentes são movimentadas,
o tempo (ah! o tempo!) nos dá a impressão de coletividade.
Mas a alma é insalubre,
ela é sozinha.
Falta-me um pedaço sempre que alguém se desgarra
(por quaisquer motivos).
Das várias construções de mim,
das várias considerações acerca do afeto humano
chego à conclusão
de que sofremos porque não aceitamos
a nossa própria condição.
Teu bilhete de metrô é único.
Tua passagem tem só uma via.
Há só uma escova de dente sobre o lavabo,
não se engane.
Resta-nos viver essa solidão com dignidade.


fevereiro/2015

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