Quando ainda muito pequena, comecei a contar estrelas. Diziam que eu ficaria com os dedos cheios de verruga, mas eu nem ligava. Achava até charmoso caso alguém perguntasse o que aconteceu. Responderia de imediato: - São as marcas das estrelas que contei. Mas nunca tive uma marquinha sequer. Quantificar estrelas me fazia gerente dos corpos celestes. Me trazia uma série de benefícios - acreditava: forçava a visão para encontrar o brilho lá no fundo do firmamento; percebia que toda sensatez humana desparecia frente à imensidão negra; caminhava sem medida pelo universo. Com o tempo, as nuvens de poluição apagaram do quadro meus pontos brilhantes. Por um momento adormeci; quando despertei encontrei quase nada ao olhar pra cima. Nem estrelas. Nem aviões. Nem meus sentimentos feridos. Me mudei para o interior onde a noite é mais brilhante. Descobri, ali, comigo mesma, que as estrelas também vivem sós.
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